quinta-feira, 30 de março de 2017

a obra da sua vida

Já tive a oportunidade de conhecer alguns lugares na vida e, desde sempre, gosto de observar os detalhes e os sistemas complexos das construções. Entender o quês e porquês das estruturas e infraestruturas. Também gosto de observar os quês e porquês da natureza. E a comparação chega a ser grotesca. Ela dificilmente erra, nós quase sempre temos cantos sobrando ou peças faltando.

O que me faz pensar: se existe um lugar onde não tem nada construído, por que ir lá e construir algo mal feito? Se não existe algo na nossa vida ainda, por que tornar mau?

Nossas construções deveriam harmonizar e complementar a bela natureza em que vivemos. Devem ser ao mesmo tempo úteis e melhorar nossas vidas, sem criar problemas que antes não existiam. Se ainda não existe nenhuma parede, por que construir uma parede fora do esquadro? O trabalho de revestir com cerâmicas cortadas de forma desigual é improdutivo, e o resultado é péssimo. Se procurar por aí, vai ver que alguns sugerem formas de resolver isso com um “jeitinho”. Resolve?

Nossas vidas deveriam harmonizar e complementar a beleza do ambiente que vivemos. Pessoas diferentes, gostos diferentes, emoções diferentes. É o que torna nossa espécie notável. Deveríamos viver bem – ao menos tentar. Ser construtivo para as vidas que nos cercam e não criar problemas que não existiam antes de chegarmos.

Precisamos mirar a perfeição! Nas construções e nas nossas vidas.

Quando começamos a aceitar “qualquer coisa”, qualquer coisa é o que vamos conseguir. É possível executar uma obra de forma perfeita? Dificilmente..., mas isso apenas demonstra nossa incapacidade de autossuficiência. Não deveria servir como desculpa para viver a nossa mediocridade.

Desde a fundação somos desleixados com nossas construções. Aceitamos fazer “o que dá” e apoiar nossas obras em terrenos desconhecidos ou conhecidamente insuficientes. Muitas vezes nas nossas vidas apoiamos nossas esperanças em coisas que podem se perder. Condenamos nossas obras já no início. Afundamos nossa vida já em nossas bases.

Não é avançando com a obra, construindo mais, reformando e fazendo reparos atrás de reparos que vamos melhorar as nossas construções. É necessário refletir e refazer o que for preciso. Derrubar paredes, quebrar peças de concreto, arrancar revestimentos, eliminar o desnecessário e construir o que falta. Eliminar a sujeira para depois limpar.

Na vida, não é simplesmente buscando mais e mais experiências ou acumulando mais e mais riquezas que vamos resolver nossas patologias.

Depois que o concreto endurece, demolições são necessárias. Depois que nos tornamos cabeças-duras, reaprender é necessário. E o aprendizado, geralmente doi. O retrabalho, geralmente é difícil e penoso. Sem levar em conta o custo disso tudo!

Só se submete a passar por um processo desse quem entendeu que é necessário. Quem entendeu que a construção tem um problema patológico, não é “assim mesmo”. Que a vida tem um problema crônico, não precisa ser “assim mesmo”.

O senso comum vai te dizer o contrário, mas você vai continuar se questionando: precisa ser assim mesmo? Quem entender que continuar pelo caminho comum é prejudicial, vai tentar convertê-lo, mesmo que isso custe caro e pareça ser ainda mais difícil.

Muitas vezes construímos errado por ignorância. Não se pode condenar quem não sabia, mas o preço a ser pago pelo reparo é o mesmo. É mais fácil ouvir um conselho ruim do que um conselho bom, mas com preguiça e falta de humildade, não é possível aprender. Pense fora da caixa, tem coisas que só você pode fazer ou entender por você mesmo. Mas os sinais são externos. Escute, estude, observe, investigue. No fundo, você tem uma lei moral. No fundo, você tem um bom senso. Com observação, até um leigo consegue perceber uma construção mal-acabada. Se tornar um especialista no assunto, facilita o diagnóstico.

O mundo nos dá exemplos de construções bem-feitas e malfeitas. O que é melhor, fiação enterrada ou fiação exposta? Esgoto a céu aberto ou esgoto coletado e tratado? O que é mais fácil fazer?

O caminho do mau pode parecer mais livre, e certamente é mais fácil. Mas é melhor?

Das piores patologias, certamente as funcionais são piores que as estéticas, embora ambas sejam prejudiciais. Não adianta parecer bem, mas fazer mal. Não adianta parecer bom, mas fazer o mau. Não é suficiente. Um bom arquiteto sabe disso. Uma pessoa do bem sabe disso.


Observando nosso mundo e nossas construções, aprendo que tem muito trabalho a ser feito. E, por incrível que pareça, as construções são a parte mais fácil de se resolver.